domingo, 20 de abril de 2014

"Quem não tem ferramentas de brincar inventa!"


"Com o funcionamento dos agenciamentos, tem se o cultivo dos paradoxos para externalizar as relações de aprender e desaprender, pois estas só existem porque são exteriores e estão no meio, fazendo do agenciamento uma experimentação que violenta o pensamento e o força a pensar. Por isso, um educador que assume esse cultivo é um experimentador, nunca interpretador. Um agenciamento de ideias, de relações e de gestos. Um cultivo em que o mestre, o aluno, o aprender e o desaprender tomam o lugar dos conceitos. Inventa!
Agenciando-se aos poetas, "[...] que não tem ferramentas de brincar inventa!" (M. Barros, 1993). Para pensar com método e com política e com cultivo do paradoxo é necessário fazer da experiência de formação por vir uma ferramenta de pensar. "Não se é pensar um pensamento dialético, como quando se diz[...] um dá dois que vai dar três. (Deleuze; Parnet,2004,p.75) Trata-se do múltiplo, uma multiplicidade que não está na totalidade. "Uma multiplicidade está apenas no e, que não tem a mesma natureza que os elementos, os conjuntos e mesmo as suas relações" Uma multiplicidade que se agencia na arte do e, num gaguejar próprio da formação, num uso minoritário de formar, feito aqui por uma formação por vir. Em tal formação não se trata de ter um objeto e traçar os passos de um método de ensino para segui-los linearmente, mas de aplicar o método, ou a não aceitabilidade hegemônica de um método, não em termos de competências para ensinar como empreendedorismo, mas no entre aprender e desaprender, cultivando as formas de problematizar, sempre provisórias, os modos pelos quais se aceita a hegemonia de um método linear como pura técnica de ensino. Não se trata de dizer que todo método é ruim, mas de colocar ou de seguir linhas mutáveis moventes numa atitude teórico-prática concernente à não necessidade de tecnização de método. Para distinguir essa posição teórico-prática acerca da não necessidade do método como princípio de inteligibilidade de um ensino, de uma aprendizagem, é preciso pensar os métodos num território de forças moventes, estudá-los no percurso de uma micropolítica. Porque esse caminho escapa da técnica de aplicação e se constitui, permanentemente, num gesto de semiesboçado, como invenção de si e do mundo (Kastrup,1999) E, nesse sentido, só é possível pensá-los pelos movimentos que o potencializam ou fragilizam no contexto de uma experiência, de uma obra aberta e de uma formação por vir."
(Dias, Rosimeri. Deslocamentos na formação de professores, 2011, p. 190-191)



Nenhum comentário:

Postar um comentário